Em um momento em que o mercado de crédito brasileiro caminha para um crescimento moderado, a sensação de segurança pode ser uma cilada para investidores e gestores. Embora as estatísticas gerais indiquem evolução positiva, há riscos silenciosos que crescem nos detalhes das carteiras, esquinas pouco observadas e em perfis de tomadores que parecem estáveis.
Após um ciclo robusto de expansão em 2024, com crescimento de 10,5%, o crédito no Brasil deve desacelerar para 9% em 2025. Essa progressão, embora expressiva, reflete uma abertura cautelosa dos bancos, que ajustam estratégias diante de juros mais baixos, mas potencialmente voláteis. A carteira de recursos livres deve crescer 8,3%, enquanto a direcionada avança 9,7%.
No entanto, a curva se inclina para a atenção redobrada dos analistas. A Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito mostra menor tolerância ao risco por parte das instituições, e esse movimento traduz um olhar atento para cada segmento de clientes e modalidade de operação.
Por trás dos indicadores gerais, esconde-se um mosaico de fragilidades setoriais e regionais. Nem sempre o maior volume de crédito determina o maior risco; muitas vezes, são as pequenas nuances que surpreendem na hora da crise.
Esse endividamento silencioso e crescente pode se manifestar repentinamente, se combinado com choques de inflação, corte de subsídios ou variações cambiais imprevistas.
Nem todas as linhas de crédito carregam o mesmo grau de risco. Enquanto a inadimplência geral gira em torno de 2,04%, há modalidades que disparam indicadores.
Os números revelam uma disparidade preocupante entre carteiras. As pequenas e médias empresas, por exemplo, chegam a pagar 1,50% ao mês de juros, e recorrem ao rotativo mesmo em momentos adversos, aumentando o risco de calote.
O panorama macroeconômico adiciona camadas de complexidade. A Taxa Selic prevista para 2025 oscila entre 14,75% e 15%, tornando o custo do dinheiro ainda mais elevado para consumidores e empresas. A inflação, estimada em 5,44%, corrói o poder de compra e pode elevar inadimplências.
Além disso, o câmbio tenso — com projeções do dólar em R$ 5,80 ao final do ano — e as incertezas fiscais sobre a sustentabilidade da dívida pública são fontes permanentes de instabilidade. Embora o Banco Central destaque a solidez do sistema financeiro, testes de estresse indicam preocupação em segmentos pouco acompanhados.
Detectar antes de reagir é a chave para não ser pego de surpresa. Alguns indicadores mostram vulnerabilidades antes do aumento real de calotes:
Monitorar essas variáveis de perto permite ações antecipadas e evita que carteiras aparentemente saudáveis se tornem fontes de dor de cabeça.
Planejar com base em cenários e práticas comprovadas fortalece a capacidade de enfrentar inadimplências inesperadas:
Essas medidas promovem uma gestão proativa e preventiva, essencial para sustentar lucros e preservar a saúde financeira de todos os envolvidos.
O crescimento moderado do crédito em 2025 não deve embotar a percepção dos riscos ocultos. A zona de conforto pode ser ilusória quando indicadores positivos mascaram situações pontuais de fragilidade. Instituições financeiras e reguladores precisam manter uma abordagem multidimensional, unindo tecnologia, análise humana e indicadores macro.
Somente assim será possível identificar onde o risco de crédito realmente se esconde — e agir com agilidade, antes que o problema transborde e comprometa carteiras inteiras. Em um cenário volátil, estar alerta é a melhor estratégia para transformar desafios em oportunidades de crescimento sustentável.
Referências